Quando foi que eu parei de me achar bonita?

Eu estava em dúvida se postava esse texto ou não, se estiver lendo eu decidi postar. É meio que um desabafo sobre algo que é tão simples (como um corte de cabelo), mas que pode transformar a forma que você pensa. E algo que eu queria falar pra alguém, então decidi postar aqui.

Eu nunca fui uma garota que via problemas no meu próprio corpo, porém nunca parava no espelho para dizer a mim mesma que eu era linda. Era algo como: se a roupa está confortável, tudo tranquilo. Eu via garotas lindas reclamando de determinadas partes do corpo e eu nunca entendia o porquê que elas não gostavam se elas eram lindas!
Anos se passaram e eu nunca via minha aparência como algo ruim. Eu era do tipo de pessoa que pouco me importava com o que os outros achariam de determinada roupa que eu usava ou determinado corte de cabelo, tampouco ligava se caras reparavam no meu jeito ou aparência. Eu era apenas eu. Bem… eu era assim e aos poucos fui deixando de ser essa pessoa.
Em 2014, pela primeira vez,  eu cortei o meu cabelo mais curto que tinha cortado em toda minha vida. E eu fiquei tão feliz, eu sempre desejava ter um corte daqueles e finalmente consegui. As pessoas me perguntavam se eu estava revoltada com a vida ou alguém para ter cortado daquele jeito. Isso dava uma raiva! Afinal, porquê ter cabelo curto é motivo de ter se revoltado com algo? Deixei meu cabelo crescer até 2016 e, já estava enjoada de ter esses longos cabelos e lá fui eu, cortei de novo. Meses depois, novamente. As pessoas me confundiam com um garoto de 12 anos na rua , no supermercado, no ônibus, no trabalho… Ás vezes era meio chato, mas outras vezes eu até achava divertido. Porém, em nenhum momento eu quis me parecer com um “garoto”, com um homem. Eu me sentia mulher, porque eu sou mulher. 
Desde sempre eu venho tentando encontrar quem eu realmente sou e ao longo desse tempo mudei bastante, mudei meu estilo, meu jeito de ser. Aos poucos fui descobrindo quem eu realmente era. Mas senti que fui me perdendo de mim mesma. 
Desde 2016, quando cortei meu cabelo bem curto, recebia muitos elogios, mas havia uma pessoa em específica que não parecia tão feliz com a minha decisão. Uma pessoa que eu considerava importante na minha vida, importante o suficiente para escutá-la quando havia alguma crítica. O tempo foi passando e eu ouvia todos os dias coisas ruins sobre mim: o quanto eu não era uma garota tão feminina, que os caras não iriam se interessar por mim por causa das minhas roupas que não eram curtas o suficiente, que eu deveria usar maquiagem, que minha boca parecia de defunto de pálida que era e que eu deveria usar pelo menos um batom. E a lista é bem grande…

De todas as minhas fotos, essa é minha favorita.

No início eu não ligava muito para esses comentários, mas quando eles se tornam rotineiros há uma certa tendência em aceitá-los como verdade. Eu os aceitei, por bastante tempo. Ouvi, os tomei como verdade e decidi mudar. Mudar até que a pessoa aprovasse o jeito que eu era, a roupa que vestia e o corte de cabelo perfeito. Eu mudei, deixei meu cabelo crescer, usei roupas mais curtas… Mas não usei maquiagem por que isso eu realmente não gosto. E aos poucos, cada coisa que fazia era aprovado por essa pessoa e a cada aprovação eu sentia que estava no caminho certo. Que eu seria mais feminina, mais mulher. 
Mas com isso vieram outras coisas como eu começar a odiar cada parte do meu corpo. Eu me preocupar com os quilos a mais que estava ganhando. Observando os defeitos que antes eram apenas parte do meu corpo. Passei a me preocupar com o que outras pessoas achariam se eu usasse determinadas roupas ou agisse de determinada maneira. Eu tinha medo.

Eu recebi o seguinte comentário desta mesma pessoa a qual eu buscava uma aprovação, que meu cabelo estava muito mais lindo comprido do que antes que estava escroto. Eu sinceramente senti uma vontade tão grande de chorar naquele momento. E houve um dia que eu parei e me olhei no espelho e estava exatamente do jeito como a outra pessoa dizia para eu ser. Mas não estava feliz. Me observei e falei para mim mesma: “eu estou linda! Muito linda, essa garota do espelho é linda, mas não sou eu. A imagem que vejo da garota no espelho não é A Emilly. Não é do jeito que quero ser.” Eu não me sentia bem comigo mesma, era como se a Emilly do espelho fosse outra pessoa e que eu não era mais bonita porque não era mais eu. E acabei me perguntando: quando foi que eu parei de me achar bonita? E pela primeira vez senti saudade do meu eu do passado.
E tomei a decisão de ir cortar o cabelo, novamente depois de quase dois anos. Mas ainda tinha esse medo, medo de não ser mais aquela garota que performa a feminilidade, de não me verem da mesma forma que quando eu tinha cabelo comprido. É bizarro o quanto um corte de cabelo pode afetar a autoestima de uma mulher.

Aliás, eu me sentia mulher? Foi aí que fui em busca de tentar encontrar respostas para as seguintes perguntas: o que é feminilidade? O que é ser mulher? Eu deixo de ser mulher por ter um cabelo curto ou não usar roupas que são ditas “femininas”?

Usando um exemplo de um vídeo de uma youtuber: quando nascemos somos automaticamente colocados dentro de uma caixinha. Se é dito que você é homem, você é colocado na caixinha azul. Se é mulher, na caixinha rosa. Essas caixinhas já vêm determinado com que brinquedos deve brincar quando criança, como deve agir, quais roupas usar… Já é determinado que você é uma mulher cisgênero heterossexual, fútil, submissa, delicada, que vai se casar e construir uma família e por aí vai…

Todo esse comportamento e dever é imposto às mulheres, é o que espera-se delas. E ter esse comportamento não é errado, o errado está em uma mulher ser julgada partir do momento que ela não se encaixa nesses padrões de feminilidade. Eu acredito que feminilidade não é algo que esteja relacionado a aparência física ou modo de comportamento ou como denota a maneira de agir com futilidade. Feminilidade é algo interior, faz parte de mim como mulher, minha personalidade, meu caráter. Ser uma mulher feminina vai além de me comportar de determinada maneira, de agir com futilidade, de vestir determinadas roupas. Desconstruir esses conceitos do que é ser feminina e que só há um tipo de mulher feminina, foi a minha tarefa nos últimos tempos.

E ainda continua sendo! O processo de desconstrução não é algo que acontece da noite para o dia, é algo que te perturba, te impulsiona para pesquisar e aprender. Aprender sobre você, sobre o outro e sobre o quanto a nossa sociedade ainda é falha impondo padrões. E tentar encaixar pessoas nesses padrões não funciona. Ainda não sou uma mulher totalmente desconstruída, também nem tão emponderada assim, aprendo todos os dias.

Quero finalizar esse post compartilhando uns links sobre esse assunto com você.

E o que é feminilidade para você? O que é ser mulher para você? Comenta aí e vamos conversar sobre!
Picture of Emi Tavares

Emi Tavares

Designer & Turismóloga, 26 anos, manauara se aventurando em essepê. Escrevo em blog desde 2012 e é meu hobbie favorito!

Respostas de 3

  1. Muito obrigada!
    Sim, tudo isso vai também bem além de vestir. Chega até uma forma certa de comportamento para tirar fotos. Cada um é dono da sua rede social né? Desde que não esteja agredindo/ insultando alguém, postamos o que queremos compartilhar.

  2. Nossa que texto incrível!!
    Para mim,feminilidade parte do caráter de cada pessoa e isso é construído durante sua vida diária, com as experiências que adquirimos dentro dessa sociedade que mais nos incentiva a sermos um robozinho do que nós mesmos, com características ou personalidades diversificadas. Os padrões de beleza hoje em dia te definem mais como você se apresenta fisicamente, na sua parte exterior, do que com suas virtudes, com o seu interior.
    É Emily, gostei muito do seu post, e em algumas partes me identifiquei bastantes, na questão do cabelo, da maquiagem, das roupas, e até um que não foi comentado mas que quero ressaltar que é a questao das selfies rs, suas fotos de perfil nas redes sociais, por quantas e quantas vezes já ouvir comentários não muito bons de "amigos acerca de minha aparência nas redes sociais, de que eu deveria ser mais mulher, seguir um modelinho para saber tirar uma selfie, que atraísse o olhar de um garoto, ou despertasse "inveja" em alguém. E nossa como eu amo tirar foto da natureza, se eu pudesse minhas fotos de redes sociais só seriam disso, também seria fotos minhas fazendo caretas e tal, coisas o qual me deixasse mais confortável, leve, alegre,espontâneo, simples.
    Enfim, é muito bom o seu texto!!!

  3. Fico feliz que tu, ainda criança, saibas tão bem quem tu és. Esses dias eu assistia um vídeo de uma menina Youtuber que cortou o cabelo e eu pensei com os meus botões "Nossa. Esse cabelo novo é o reflexo da personalidade dela. O outro cabelo cabia a alguma outra pessoa. Não ela." E eu enxerguei isso claramente. Daí eu comecei a pensar qual seria o MEU cabelo. E do auge dos meus quase 40 anos, não soube responder. Já não sabia mais quem eu era… tinha me perdido por aí. Desde então venho pesquisado. Porque, como tu já vistes… nunca é só o cabelo. É a manifestação do que se é. E a maneira como apresentamos esse nosso ser para o mundo. Belo texto, moça.

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